Críticas: Serenity
Serenity (2005) - De Joss Whedon
O Filme:
Em 2002 Joss Whedon, o responsável pelas conhecidas sérias Buffy e Angel, criou a menos conhecida série Firefly. A ideia era original, no futuro a Terra torna-se demasiado pequena para a sua população, o que leva ao início da colonização do espaço. O facto mais interessante (ou mais bizarro) da sério é o paralelismo com o que foi a colonização do Oeste Americano. Pode-se portanto dizer, de forma algo simplista que a série é sobre cowboys no espaço.
Os personagens principais de Firefly são um grupo de 8 pessoas, que numa nave, a Serenity, operam à margem da Aliança (essencialmente o governo da maioria do Universo conhecido) em várias missões mais ou menos ilegais.
Apenas foram feitos 14 episódios porque a série acabou por ser cancelada por falta de audiências. No entanto quando lançada em dvd tornou-se um objecto de culto e depois de muita pressão Joss Whedon conseguiu que a Universal apoiasse o filme que permitiria atar pelo menos algumas das pontas que haviam ficado soltas.
Esta minha sinópse não terá sido particularmente emocionante, mas Firefly tornou-se uma das minhas séries preferidas, sendo o ponto forte as relações entre personagens.
Tudo isto para dizer que vi Serenity com toda uma bagagem emocional que muito pouca gente terá tido quando viu o filme nos cinemas. Como tal, embora me pareça que sim, não sei dizer se a introdução inicial que é feita das personagens é suficiente para o casual espectador se preocupar com estas durante as inúmeras vezes que são postas em perigo. Até porque a verdade é que eu já estava apaixonado por elas muito antes do inicio da primeira cena.
O filme começa por fazer um breve ponto de explicação, já que há muito que tem que ser dito para que toda a gente perceba o que se vai passar a seguir. Joss Whedon é um excelente contador de histórias e para o provar está o primeiro terço do filme, em que o realizador resolve com eficiência a difícil tarefa de manter interessados tanto quem não sabia nada deste universo como os fãs mais exigentes. Depois disso o filme vai ficando cada vez melhor e mantém um ritmo electrizante até ao fim. As personagens, tal como na série (ou talvez devido às série) são complexas e muito bem desenvolvidas. Só é pena o pequeno papel que têm Inara, nas cenas cortadas deste disco podemos ouvir o realizador a lamentar-se dos cortes que teve de fazer a esta personagem, e há uma ou duas cenas em que a podemos ver brilhar mais intensamente.
Esta foi uma produção que não teve muitos recursos, pelo que os efeitos especiais estão longe de ser perfeitos, no entanto não envergonham ninguém, e há momentos verdadeiramente emocionantes, como a grande batalha espacial, perto do fim.
Aplausos também para a coragem de Whedon, que não tem medo de colocar as suas personagens mais importantes em situações de perigo, sem querer revelar muito do filme, nem todas as personagens acabam o filme em muito com estado. Claro que ajuda preocuparmo-nos realmente com as personagens, se assim não fosse, já não de poderia dizer o mesmo.
Quanto a quem viu a série televisiva, no final, e apesar de ser usado um artifício narrativo um bocado óbvio para resolver a situação da divulgação da mensagem (é melhor não explicar mais que isto, para quem não viu o filme...), tudo é resolvido de maneira bastante satisfatória. É bom poder haver um conclusão depois do prematuro cancelamentos da série...
Para terminar, este é um filme que não agradará a toda a gente, mas todos os amantes de ficção científica deverão ficar satisfeitos. A nota que eu dou ao filme é seguramente inflaccionada pelas às horas que passei na companhia destas personagens, graças à série de TV, mas não posso fazer nada. Vocês é que, se gostaram do filme, podem e devem tentar arranjar a série!
Classificação do filme:Os Extras:
A edição de Serenity, apesar de ser de apenas um disco, está mais recheada do que parece à primeira vista.
O documentário áudio de Joss Whedon é fantástico, dos melhores que já ouvi. Eu sei que nem toda a gente tem paciência para este tipo de extras, e é verdade que há muitos comentários chatos, mas um comentário realmente bom é dos melhores extras que um dvd pode ter.
Há também um conjunto de cenas cortadas, algumas realmente boas, que não acabaram no filme por motivos de ritmo. Estas podem também ser vistas com comentários opcionais.
Existem ainda alguns documentários, três ou quatro, que embora curtos em duração, são enormes a mostrar o amor e entusiasmo de todos os envolvidos nesta produção.
Para terminar há um pequeno extra, muito simples e que não é de grande importância, mas que é o meu preferido de todo o disco. É uma introdução de Whedon, com cerca de 4 minutos, a um dos primeiros visionamentos do filme. Num meio como Hollywood em que tanta gente anda à procura de dinheiro sem se preocupar com o produto final, é refrescante ver a dedicação do criador deste universo ao seu projecto. Whedon é uma pessoa divertida e interessante, e ver como ele fala dos esforços para por este filme de pé e a maneira como ele pede o apoio de todos para espalhar a palavra se gostarem (ou ficarem calados se não) é algo comovente, principalmente sabendo que o filme foi um fracasso de bilheteiras, o que, mais que certo, levou a que seja este o final do que podia ser um dos melhores franchisings de ficção científica do cinema.
Para terminar, este é um filme que não agradará a toda a gente, mas todos os amantes de ficção científica deverão ficar satisfeitos.
Classificação dos extras: